O cânhamo, subespécie da Cannabis Sativa L, faz parte da humanidade há milênios e, como matéria-prima, esteve presente em diversos momentos históricos importantes. O Brasil não se manteve alheio a isso e durante o período colonial houveram tentativas de cultivá-lo em solo nacional. Apesar da proibição, o cânhamo resistiu como uma cultivar tradicional em alguns países por conta de todos os seus benefícios. Hoje, vem sendo reinserido na agricultura de outras nações pelo mesmo motivo.
A cultura do cânhamo é de interesse global e deve ser também do Brasil, devido às suas características estruturais e de cultivo. A planta não tem níveis significativos de THC, tem alto rendimento e é resistente a ponto de ser dificilmente prejudicada por pragas, além de poder ser cultivada de três formas diferentes (ambiente interno, externo e em estufa), sendo que cada uma tem suas vantagens e desvantagens. Além do mais, muitos de seus atributos físicos, que geram insumos como as fibras, sementes e flores, têm uma variedade de finalidades e capacidade de contribuir positivamente para o meio ambiente.
Com as mudanças climáticas gerando consequências sérias ao planeta e à humanidade, as práticas sustentáveis são cada vez mais valiosas entre diversos meios, como nas relações governamentais entre países e no âmbito empresarial. O cânhamo é uma base agrícola que possibilita não só a produção de uma variedade de insumos, complementando as culturas de indústrias que hoje são consideradas nocivas ao meio ambiente. Além disso, também carrega diversas características naturais que são sustentáveis, a exemplo do fato de que devolve nutrientes aos solos onde é cultivado e tem uma produção de carbono negativa. O Paraguai, por exemplo, prevê ser o primeiro país com neutralidade de carbono no mundo após a regulamentação do cânhamo e cultivo de 100 mil mudas em seu território.
Trazendo o olhar para o Brasil, após o auge do proibicionismo, nosso país voltou a construir um histórico com o cânhamo. Mesmo em contradição à lei, que não permitia o uso de derivados da cannabis ou cânhamo, o Brasil registra importações de insumos do cânhamo desde 1999, mas foi só nos anos de 2007 e 2008 que esses números tiveram um aumento significativo. Nesse período, o estado de São Paulo trouxe de Bangladesh mais de 100 toneladas de cânhamo bruto.
Números como esses mostram que existe uma demanda significativa para derivados do cânhamo no Brasil, mesmo que o insumo ainda se encontre em uma zona cinzenta no âmbito legal. Essa demanda, no entanto, ainda é suprida por países estrangeiros, sendo que a agricultura nacional, caso houvesse regulamentação da planta, poderia fazer esse papel e ainda ser responsável por exportações para outras potências, dando tração a mais de 1000 setores que poderiam ser impactados positivamente pela inclusão do cânhamo na legislação, gerando oportunidades econômicas, profissionais e sustentáveis à população e ao país.
Dados coletados pela Kaya Mind e divulgados no relatório “Cânhamo no Brasil – os possíveis impactos econômicos e sociais de um insumo sustentável em um país com grande capacidade agrícola” demonstram a importância do cânhamo para o desenvolvimento sustentável da economia brasileira. Seu cultivo contribui para os novos desafios globais relacionados ao meio ambiente, podendo substituir ou entrar na rotação de monoculturas tão comuns no Brasil como eucalipto, soja e algodão, além de ser aplicável a realidade da agricultura familiar em nosso país. O potencial de produção e arrecadação em impostos dessa planta é gigantesco e, caso houvesse uma regulamentação, poderíamos figurar entre os protagonistas globais dessa cultura que já é realidade mundo afora.
Seriam por volta de R$ 330 milhões de tributos arrecadados no país no quarto ano de regulamentação do cânhamo, os quais poderiam ser reinvestidos em programas de sustentabilidade e, principalmente, sociais, para ajudar a restaurar os danos históricos causados pelo proibicionismo ao longo dos anos.
Para completar, a Cannabis sativa L. e suas políticas relacionadas podem contribuir para 15 dos 17 SDG’s (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, sendo que o cânhamo, faz parte de 8 dessas metas. Essa foi uma das conclusões do relatório “Cannabis & Sustainable Development”, de autoria dos pesquisadores Kenzi Riboulet-Zemouli, Simon Anderfuhren-Biget, Martin Díaz Velásquez e Michael Krawitz.
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