Cannabis, Maconha, Ganja, Marijuana, Hemp, Green, Diamba. São tantos nomes que poderíamos reservar um artigo só para as nominações que essa planta recebeu ao longo do tempo. Mas como tudo deve começar de um lugar, de preferência o início, que tal entendermos o que é Cannabis?
A Cannabis Sativa L é uma planta da família Cannabaceae, a mesma do lúpulo, um dos componentes principais da cerveja. Acredita-se que a sua origem histórica está ligada à região da Ásia Central e Meridional. Seu processo de domesticação iniciou provavelmente há mais de 10 mil anos atrás, na China.
É uma planta dioica, ou seja, existe macho e fêmea. Sua polinização, que representa o processo reprodutivo, se dá pelo ar ou por insetos polinizadores. Nesse sentido, as plantas machos apresentam baixa concentração de canabinoides e normalmente são utilizadas para reprodução de sementes ou cultivadas para a obtenção de fibras, úteis para a confecção de tecidos, por exemplo. Já as plantas fêmeas possuem maiores concentrações de canabinoides e suas finalidades são as mais variadas na indústria, mas podemos resumir que ela é útil tanto para o uso adulto, quanto para o terapêutico e industrial.
Da mesma forma, muito se fala da distinção entre Indica e Sativa, mas é interessante aprofundar esse conceito. A Cannabis Sativa L foi catalogada em 1753, por Carl Linnaeus (O L, de Cannabis Sativa L é de Linnaeus), e a Indica, por Jean Baptiste Lamarck em 1785. Nenhum dos dois fazia menção aos efeitos que cada planta causava, e sim, suas características morfológicas.
John McPartland, professor e estudioso da cannabis, aponta em um artigo publicado na Cannabis and Cannabinoid Research, que apesar dessa distinção morfológica, todas as Cannabis são Cannabis Sativa, sendo a Indica e Ruderalis subespécies, que se desenvolveram de maneira distinta devido a ambientes, finalidades e fatores específicos relacionados ao plantio.
Vamos diferenciar, de forma resumida, as subespécies da Cannabis:
C. Sativa Sativa
Caule pouco ramificado e com folhas finas, costumam ser mais altas, podendo chegar até 5 metros de altura. Possuem um tempo de maturação mais longo que o das outras espécies.
C. Sativa Indica
Estatura mais baixa, com folhas mais largas e grossas.
C. Sativa Ruderalis
Ainda mais baixas, possuem um nível menor de canabinoides quando comparada às anteriores. Muito adaptável, costumam utilizá-la com viés reprodutivo para a geração de novas genéticas.
Mas o que são os canabinoides que foram tantas vezes citados?
Bom, isso terá que ficar para outro momento, por se tratar de um tema muito específico que necessita de um artigo exclusivo. Para não ficar no ar, vamos trazer uma breve explicação. Os canabinoides são substância encontradas ou extraídas da planta da Cannabis, chamados de fitocanabinoides, como também são produzidos e encontrados em nosso próprio corpo, os chamados endocanabinoides. Essas substâncias ajudam na regulação do equilíbrio do nosso organismo, sendo o THC e CBD os canabinoides mais conhecidos e difundidos de forma geral.
Uma planta, muitas finalidades
Algo que muitas vezes foge da opinião pública sobre a Cannabis é que se trata de uma planta com extrema versatilidade. Muitas vezes, a associam apenas ao método de consumo inalado através do fumo, mas ela pode ser utilizada para produzir papel, tecidos, fios, biocombustíveis, alimentos, material para construção civil, cosméticos e uma série de outros produtos. Só no que se refere aos produtos alimentícios derivados, foram mais de 680 registrados na base de dados de Departamento de Agricultura dos Estados Unidos até o ano de 2020. Nós também produzimos produtos feitos de Cânhamo, que você pode conferir aqui!
Apesar de existirem termos como Cânhamo, Cannabis Medicinal, Maconha e por aí vai, todos se referem a mesma planta. O que vai diferenciá-los são os níveis de THC e a finalidade que a mesma terá dentro da indústria. Para o uso adulto, o ideal são plantas fêmeas, cultivadas em ambientes nos quais se tenha mais controle sobre variáveis como luz, ventilação, nutrientes, etc. Se a intenção é cultivar para fins industriais como têxtil, alimentício, entre outros, as genéticas com níveis insignificantes de THC e que crescem com mais facilidade, são ideais. Para o viés terapêutico ou medicinal, assim como nos outros casos, a escolha da genética também se faz de acordo com a quantidade e proporção de canabinoides desejada para o produto final e há o monitoramento e controle de todo o processo, da semente ao produto, para evitar qualquer tipo de contaminação.
Contribuição Para o Meio Ambiente
Concluímos, portanto, que a mesma planta, Cannabis Sativa L, possui diversas finalidades, o que, guardem isso, foi um dos motivos para ela ter sido criminalizada e perseguida por tanto tempo, visando favorecer indústrias concorrentes. Para além das inúmeras aplicações que ela possui, algo que desperta atenção e interesse é o seu potencial de contribuição para o meio ambiente. Com característica de ser bioacumuladora, ou seja, atuar no processo de assimilação e retenção de substâncias químicas provenientes do ambiente, o plantio de Cannabis colabora com a regeneração do solo. Estudos feitos em Chernobyl, na Pensilvânia, e na Espanha, em locais com solos contaminados, mostraram o potencial da planta em absorver substâncias tóxicas do solo. Além disso, se trata de uma grande aliada no sequestro de carbono da atmosfera: cada tonelada de cultivo com finalidade industrial, o denominado cânhamo, caso plantado nas condições adequadas, sequestra da atmosfera aproximadamente 1,63 tonelada de CO2.
Se é válido mais um apontamento, podemos também comparar a Cannabis cultivada com finalidade têxtil com seu principal concorrente, o algodão: enquanto este necessita de 17 mil litros de água por quilo, o cânhamo exige 700 litros para a mesma quantidade.
Definitivamente falar sobre essa planta sagrada exige muito mais conteúdo, mas uma coisa de cada vez! De qualquer forma, chama a atenção como ainda estamos virando as costas para essa realidade, não é mesmo? Desse modo, faremos outras publicações sobre a ciência e tudo mais que envolve a planta, mas já deu pra entender um pouco, né?
Passado, Presente e Futuro
Em conclusão, o que temos ao nosso alcance, em uma inevitável regulamentação da Cannabis, é uma planta adaptável, com diversas aplicações e alta contribuição ambiental. Temos a oportunidade de formar uma indústria que desenvolva economicamente nosso país e nosso povo, contribuindo para o meio ambiente e bem estar geral. Mas como que chegamos nessa situação de proibição e preconceito com algo tão útil à sociedade? Para isso precisamos entender a história dessa planta para aí sim, compreender como se desenvolveu o proibicionismo. Clique aqui e continue nessa jornada de conhecimento com a gente!
REFERÊNCIAS:
https://www.tf.llu.lv/conference/proceedings2013/Papers/101_Wong_A.pdf
https://home.liebertpub.com/publications/cannabis-and-cannabinoid-research/633/overview
HOLLAND, Julie (2010) – O livro da Maconha
Curso Cannabis Medicinal – Unifesp
2 Comentário
Carlo
Educação sobre a planta! É disso que precisamos.
Gabriel Polito
Exatamente, Carlo! A informação e o conhecimento são a chave para um futuro mais verde!