Iniciamos esse texto sobre ativismo e maconha com uma frase de Angela Davis, revolucionária que tanto inspira a luta mundial. No livro “O sentido da liberdade”, Angela diz: “Falhamos em desenvolver uma consciência histórica expressiva e coletiva. Uma tal consciência acarretaria o reconhecimento de que nossas vitórias, alcançadas por meio de movimentos libertários, nunca estão inscritas em pedra(…) a luta deve continuar!”
Imagine um mundo onde as mulheres não possuem direito ao voto. Onde uma pessoa negra não possa frequentar restaurantes, banheiros ou transportes de pessoas brancas. Um lugar onde manifestantes são torturados. Um país que não possui nenhuma lei que trata de violência doméstica. Onde o ócio fosse crime passível de prisão. Um país proibido de se manifestar com posições contrárias às vigentes. Ou um lugar onde a arte e a música não podem se manifestar.
Todos os absurdos citados acima foram regras vigentes mundo afora nos últimos 100 anos. Entretanto, não existem mais hoje. Mas como se deu a queda desses absurdos? Angela Davis nos mostra muito bem: com organização, trabalho de base e mobilização popular em prol de uma nova realidade.
E Hoje?
Infelizmente, mesmo com alguns avanços, ainda temos uma sociedade desigual, com leis e regras racistas, excludentes e elitistas que nos impedem de avançar rumo a uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável.
Qual o nosso lugar individual perante a todo esse cenário? Aqui no Brasil somos 1 em mais de 200 milhões, o que muitas vezes pode nos trazer uma sensação de impotência frente às mudanças que tanto necessitamos. O sistema banaliza a pobreza, a fome e a criminalidade. Mas convido ao exercício de pensar se, no passado, as pessoas tivessem se acomodado perante as injustiças cometidas pelo Estado, qual mundo viveríamos hoje?
Feito essa reflexão inicial, vamos trazer uma primeira conclusão: não existem mudanças significativas na sociedade que não passem pela mobilização de diferentes atores e pessoas que habitam em determinado lugar. É ingenuidade achar que quem é representado pelas leis desde sempre, ou seja, a elite política e econômica, possuem a bondade de criar leis, políticas e regras que incluam. Se fosse esse o interesse, já teriam feito. Para quem quer um mundo diferente, não basta apenas querer: precisamos estudar, participar e agir de acordo. É por isso que ativismo e maconha são dois temas totalmente interligados.
O Brasil e a Luta Antiproibicionista
Não é incomum você ver estudiosos da história da proibição das drogas falarem no conceito de “fraude científica”. Hoje temos um avanço global na regulamentação da Cannabis. Aqui estamos atrasados! Temos uma atuação via Anvisa, que permite a importação e a venda de alguns produtos feitos à base da maconha. Mas esse acesso ainda não é realidade para maioria, pelo seu alto custo.
O pouco que temos de regulação canábica não veio de graça. Houve mobilização, inicialmente de mães de crianças que sofriam com doenças tratáveis com Cannabis, ativistas, pessoas do direito, cientistas e uma série de outros atores que se organizaram para que essa realidade hoje fosse possível. Perto do potencial que temos, ainda estamos bem distantes de uma realidade acessível, inclusiva e distributiva que a maconha poderia nos proporcionar. A grande kamarada e ativista, Diva Sativa, diz: “Precisamos de políticas que incluam a juventude, as periferias. Sem a descriminalização, sem auto cultivo, sem anistia e inclusão pros verdadeiramente atingidos pela guerra às drogas, haverá a manutenção do poder na mão de um sistema capitalista e excludente”
Enquanto alguns hoje conseguem importar legalmente flores de maconha, pessoas, em sua maioria negras e periféricas, são presas e vitimadas pela mesma substância todos os dias. Enquanto permitem que nossos alimentos tenham agrotóxicos banidos há anos, nos proíbem de plantar um cultivar que possui mais de 20.000 aplicações industriais e que tem capacidade de limpar o solo. Temos mais de 30 milhões que passam fome e estamos proibindo um cultivar que além de também gerar alimentos, gera renda.
Kamah: Uma Marca Ativista
Essas injustiças históricas que ainda nos assolam moveram a criação da Kamah. Por isso nos denominamos uma marca-ativista. Queremos somar e ser agentes transformadores deste cenário. Esse texto é para qualquer pessoa, mas principalmente para as pessoas que se sentem impotente frente a essa realidade. É natural, mas se há alguma chance de mudança, independente da pauta, passa pela educação, pela organização e pela mobilização social coletiva.
Em um país como o nosso, cada um tem sua realidade e possibilidades de participar. Investir tempo em aprender e conversar com os seus já é um ato político. O trabalho de base é muito importante: “Precisamos de uma educação focada na autonomia, inclusão, validação do afeto e do cuidado do indivíduo, e principalmente, uma comunicação antiproibicionista sólida e possível”
Aproveitamos o texto para deixar indicações também de alguns coletivos e movimentos, além da Kamah, que realizam encontros, debates, promovem a educação e acreditam em uma sociedade melhor. O espaço fica aberto para novos movimentos. Ativismo e maconha estão totalmente alinhados!
- Marcha da Maconha (presente em centenas de cidades)
- Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas (@iniciativa_negra)
- Plataforma Brasileira de Política de Drogas (@plataformapbpd)
- Rede Nacional das Feministas Antiproibicionistas (@renfantiproibicionista)
- Observatório de Segurança Pública (@redeobservatorios)
- Drogas Quanto Custa Proibir (@drogas_quantocustaproibir)
- Coletivo Dar (@coletivodar)